Como equilibrar o "fazer" e o "ser"

---

O antigo dilema entre o "fazer" e o "ser" vem tornando-se cada vez mais comum em nossas vidas. A corrente filosófica chamada Utilitarismo nos ajuda a compreender um pouco mais sobre a relação da prática da ação em busca de consequências voltadas para felicidade e prazer. Ela investiga as ações e os resultados que proporcionam o bem-estar aos seres sencientes, ou seja, aqueles que de forma consciente possuem sentimentos.

É bastante perceptível que, a partir de determinado período, nossa sociedade tem se moldado em função da ação, seja em busca pelo prazer ou felicidade, ou em busca de saciar necessidades básicas como alimentos e moradia.

Essa prática, no entanto, tem se mostrado inadequada de uma certa forma, a partir do momento em que perdemos o sentido do que é suficiente para nós, do quanto estamos dispostos a agir e qual a qualidade e duração do prazer e felicidade que obtemos.

A partir da percepção de que os resultados gerados pela ação, muitas vezes são efêmeros demais para nós, passamos a desconfiar de que, talvez, apenas agir não seja suficiente. Surge então, um novo nível de consciência através da percepção do "ser" e do entendimento de uma parte em nós que desempenha um papel de observador, e que muitas vezes não está relacionado a nenhuma ação, e pelo contrário, é de mais fácil entendimento nos momentos de não-ação.

O estado do "ser", vem tonando-se mais comum em nossos diálogos, e relaciona-se à consciência por trás de nossos atos e até pensamentos. O questionamento sobre sua importância, relaciona-se ao fato de que estamos acostumados a realizarmos nossas ações no modo automático ou de forma inconsciente, não compreendendo, a relevância de nossas ações.

A medida que percebemos as duas vertentes dentro de nós, relacionadas ao "fazer" e ao "ser", sentimos certa dificuldade em direcionar nossos esforços sem que haja um entendimento do porque estamos realizando algo. De um lado, o silêncio e apenas o fato de existirmos nos parecem suficientes, do outro, a "realidade" com suas exigências e a lembrança de que trabalho, dinheiro, saúde, família, relacionamentos, sonhos e desejos também são essenciais para nós.

Caso você tenha sentido algum conflito nesse sentido, talvez esteja preparado para a prática da realização consciente de suas ações, em que torna-se aberto para a capacidade de unir o "ser" ao "fazer".

E o que significa realizar minhas ações de forma consciente? Estar em "estado de presença" ao realizar algo pode ser uma explicação. Mas de uma forma mais prática, podemos começar com o ato de aumentar a atenção e tentar concentrar-se no que está fazendo.

Essa prática pode ser realizada com todas as ações de nosso dia-a-dia, desde quando acordamos, escovamos os dentes, preparamos nosso café-da-manhã, e até mesmo ao pegar no sono e ao acordar novamente. Aos poucos, irá perceber que essa prática se tornará mais natural e será mais fácil para você compreender quais são suas prioridades, qual o momento de parar de agir e descansar sua mente através de atividades mais tranquilas. Além disso, você vivenciará maior prazer ao realizar suas ações, por mais insignificantes que elas pareçam ser e se deparar com resultados melhores e, muitas vezes, surpreendentes.

Realizar nossas ações de forma consciente pode exigir bastante de nós no início, pois estamos direcionando nossos esforços de uma forma diferente do que estamos acostumados. Por isso, é recomendável que se comece aos poucos, escolhendo as ações que são mais fáceis para você. Atividades como meditação e práticas de respirações nos ajudam a aumentar a capacidade de nos mantermos conscientes durante mais tempo. Vamos falar sobre elas, em outros tópicos.

O equilíbrio entre o "ser" e o "fazer" pode nos trazer uma nova perspectiva de vida, principalmente, quando nos damos conta da necessidade de encontrarmos mais coerência em relação às nossas ações com aquilo que acreditamos ser. O "fazer" consciente pode ser um grande passo para sua abertura à essa nova realidade.